COP 30 em Belém: Preparativos, Prioridades e Desafios na Amazônia

O Brasil se prepara para um momento histórico na diplomacia climática global: sediar a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

O evento ocorrerá em Belém, capital do Pará, imersa na vastidão da Amazônia, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. Mais de três décadas após a Cúpula da Terra Rio-92, que lançou as bases para as próprias COPs, a realização da COP30 em solo brasileiro, e especificamente na Amazônia, sinaliza um compromisso renovado do país em assumir um papel central e proativo na ação climática global.

O governo brasileiro não hesitou em definir sua ambição: que a COP30 seja a “COP da implementação”, marcando uma mudança crucial de foco das negociações para planos climáticos mais ambiciosos, concretos e, acima de tudo, implementáveis.

Preparativos para um Encontro Grandioso na Amazônia

A cidade de Belém está passando por uma transformação significativa para receber a magnitude da COP30. A expectativa é de que entre 50.000 e 60.000 participantes de todo o mundo desembarquem na capital paraense, incluindo cerca de 7.000 membros da chamada “família COP” – as equipes da ONU e as delegações oficiais dos países. O epicentro da conferência será o Parque da Cidade de Belém, uma vasta área de 500.000 m² localizada no terreno de um antigo aeroporto. Este espaço está sendo revitalizado e será entregue como um grande parque urbano, um legado tangível da COP30 para a cidade.

Este novo parque se conectará ao já existente Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. O Hangar integrará a chamada Zona Azul, o espaço nevrálgico das negociações políticas e reuniões diplomáticas, gerenciado diretamente pela ONU e restrito aos credenciados. Além disso, o governo está desenvolvendo o complexo Porto Futuro II, que transformará cinco armazéns cedidos pela Companhia Docas do Pará (CDP) em um vibrante polo de lazer, cultura e gastronomia, servindo como parte da Zona Verde (espaço aberto à sociedade civil, empresas e outros atores). O investimento federal estimado para viabilizar a infraestrutura da COP30 gira em torno de R$ 4,7 bilhões, oriundos do orçamento da União, de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outras parcerias estratégicas. A logística para um evento dessa escala na Amazônia é um desafio por si só, exigindo planejamento meticuloso.

Prioridades da “COP da Implementação”

A presidência brasileira da COP30 delineou uma estrutura baseada em quatro pilares centrais: uma cúpula de líderes para impulsionar o momento político; as negociações formais entre as Partes; uma robusta agenda de ação envolvendo atores não-estatais; e uma ampla mobilização da sociedade civil. Os objetivos gerais são claros: fortalecer o multilateralismo climático e inaugurar uma nova década focada na implementação efetiva dos compromissos climáticos, através de uma mobilização global sem precedentes contra as mudanças climáticas.

Nessa linha, o Brasil almeja que os resultados concretos da COP30 superem acordos anteriores, especialmente no que diz respeito ao financiamento climático. A definição do Novo Objetivo Quantificado Coletivo de Financiamento (NCQG), que sucederá a meta dos US$ 100 bilhões anuais, será um ponto focal, com a expectativa de se alcançar um valor significativamente mais ambicioso e com mecanismos claros de entrega, superando o que foi considerado insuficiente na COP29 em Baku.

Diversas prioridades-chave deverão moldar a agenda em Belém:

Metas Aprimoradas de Redução de Emissões: Um ponto central da COP30 será a apresentação da nova rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) pelos países, com metas para 2035. Espera-se que essas NDCs sejam significativamente mais ambiciosas, informadas pelo primeiro Balanço Global (Global Stocktake) concluído na COP28. Há também uma expectativa, embora não uma confirmação, de que o próprio Brasil possa apresentar um aprimoramento de sua NDC atual, reforçando sua liderança pelo exemplo.

Centralidade da Amazônia e da Bioeconomia: Realizar a COP na Amazônia coloca este bioma vital para a regulação climática global no centro das atenções. A bioeconomia – o uso sustentável e inovador da biodiversidade para gerar desenvolvimento econômico e social – é antecipada como um foco principal, alinhando-se à agenda e ao vasto potencial brasileiro nesta área. A COP30 será uma vitrine para soluções baseadas na natureza e modelos de desenvolvimento que conciliem conservação e progresso.

Inclusão de Povos Indígenas e Conhecimento Tradicional: A presidência brasileira tem enfatizado fortemente a necessidade de incluir os Povos Indígenas e reconhecer seus conhecimentos tradicionais como ferramentas vitais e eficazes no enfrentamento da crise climática. A formação de um “Círculo de Lideranças Indígenas” para assessorar a organização da COP30 destaca esse compromisso. A visão do Brasil para 2035, refletida em sua NDC, já inclui a valorização desses saberes na transição climática.

Foco Reforçado em Adaptação: Paralelamente aos esforços de mitigação (redução de emissões), a COP30 deverá dar maior ênfase às ações de adaptação para lidar com os impactos crescentes e inevitáveis das mudanças climáticas, que já afetam comunidades vulneráveis em todo o mundo, inclusive na região amazônica.

Avanço Tecnológico e Implementação Prática: O desenvolvimento e a operacionalização de plataformas digitais para facilitar a implementação e o monitoramento de ações de mitigação, um compromisso herdado da COP29, provavelmente serão priorizados. O apoio a outras prioridades tecnológicas e a transferência de tecnologia também estarão na pauta.

Impulsionando a Agenda Climática Global: O Brasil busca fomentar um esforço coletivo em direção a planos climáticos mais ambiciosos e, crucialmente, mais tangíveis. Isso inclui advogar por soluções inovadoras, destravar o financiamento climático e promover a implementação efetiva das prioridades tecnológicas e políticas já acordadas, fazendo jus ao lema da “COP da implementação”.

Desafios no Caminho para Belém

Apesar das elevadas ambições e do simbolismo da localização na Amazônia, a COP30 enfrenta desafios significativos que precisarão ser superados para garantir seu sucesso:

Alinhamento Norte-Sul: Alcançar um consenso robusto sobre metas de redução de emissões e, principalmente, sobre o financiamento climático entre países desenvolvidos e em desenvolvimento continua sendo um obstáculo central. O debate sobre responsabilidades históricas versus capacidades atuais e a necessidade de os países ricos cumprirem e ampliarem o apoio financeiro (para mitigação, adaptação e perdas e danos) será intenso em Belém.

Incertezas Geopolíticas: O cenário político global, particularmente a postura de grandes emissores como Estados Unidos e China, sempre adiciona uma camada de complexidade. Mudanças políticas internas nesses países podem impactar o nível de engajamento e ambição nas negociações internacionais. No entanto, observa-se também uma crescente ação climática por parte de atores subnacionais (estados, cidades, empresas), que pode contrabalançar eventuais retrocessos a nível nacional.

Limitações de Infraestrutura em Belém: A cidade anfitriã enfrenta desafios logísticos e de infraestrutura, notadamente a disponibilidade de acomodações suficientes para o grande volume de participantes. Embora a meta seja alcançar 50.000 leitos, a capacidade hoteleira atual é inferior. Medidas paliativas, como a contratação de navios de cruzeiro para funcionarem como “hotéis marítimos” e incentivos para a construção e reforma de hotéis, estão sendo implementadas para mitigar o problema. A mobilidade urbana e a segurança também exigirão atenção especial.

Traduzindo Ambição em Ação Concreta: Talvez o maior desafio seja superar a lacuna histórica entre a retórica das negociações climáticas e o progresso concreto na redução de emissões e na adaptação. O reconhecimento de que décadas de negociações resultaram em progresso limitado na prática coloca uma enorme pressão sobre a COP30 para entregar compromissos firmes e verificáveis de implementação. Os resultados financeiros relativamente modestos da COP29 apenas reforçam a urgência de ações mais decisivas em Belém.

A COP30 em Belém representa uma oportunidade única para colocar a Amazônia e suas soluções baseadas na natureza na vanguarda das discussões climáticas globais e para catalisar uma nova era de ação climática focada na implementação. Superar os desafios existentes e traduzir as altas ambições em resultados tangíveis e financiamento adequado será crucial para o sucesso desta cúpula pivotal. A liderança do Brasil na condução da agenda, na construção de pontes e na promoção do consenso entre os diversos atores será instrumental para determinar se a COP30 realmente se tornará a “COP da implementação” que o planeta urgentemente necessita.