A norma ABNT PR 2030:2024 – Ambiental, social e governança (ESG) Parte 1: Conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações, surge como um marco importante para a sociedade brasileira, estabelecendo um guia normativo essencial para organizações que desejam implementar o conceito de ESG – Ambiental, Social e Governança. Tais práticas alinham estratégias empresariais aos princípios de sustentabilidade, criando um impacto positivo econômico, social e ambiental. Dessa forma, a ABNT PR 2030 orienta como integrar ESG nas empresas, mas também oferece um modelo de avaliação e direcionamento prático para organizações em diferentes níveis de maturidade.
Esse modelo busca ajudar empresas a identificar em que estágio estão em sua jornada ESG e fornecer caminhos para avançar de forma estruturada. Além disso, ele promove a incorporação de critérios sustentáveis aos processos organizacionais, garantindo que cada etapa seja orientada às metas de desenvolvimento sustentável, como as estabelecidas pela ONU.
A adoção de ESG vai muito além da conformidade legal. Ela é uma estratégia que melhora a reputação corporativa, atrai investidores, retém talentos e otimiza a eficiência operacional. Empresas bem-sucedidas entendem que o compromisso com ESG não é apenas uma responsabilidade social, mas também uma oportunidade de geração de valor sustentável e impacto positivo na sociedade.
Este artigo foi elaborado com base na ABNT PR 2030, explorando os 8 passos essenciais para implementação do ESG nas organizações, de forma prática e estratégica. Esses passos foram pensados para simplificar processos e capacitar empresas de caráter pequeno, médio ou grande para transformar sua gestão como um todo, demonstrando seu compromisso com sustentabilidade e governança responsável.
Como Integrar o ESG na Organização
A integração das práticas ESG em uma organização começa pela definição de uma estratégia clara, adaptada a fatores internos e externos que influenciam cada negócio. Segundo a ABNT PR 2030, é essencial considerar aspectos como o estágio de desenvolvimento da empresa, sua cultura organizacional, tendências de mercado, avanços tecnológicos e os objetivos estratégicos para o futuro.
Os temas de ESG podem variar amplamente de acordo com o setor de mercado e o nicho de atuação da organização. Pensando em facilitar a implementação, a ABNT PR 2030 seleciona e sistematiza temas reconhecidos globalmente, com base em normas e boas práticas internacionais, oferecendo um ponto inicial para que empresas identifiquem os elementos mais materiais para a sua realidade.
Estrutura para abordagem de ESG
Para organizar a aplicação prática das práticas ESG, os temas são estruturados de forma hierárquica:
- Eixo: Corresponde aos níveis mais abrangentes que definem as dimensões Ambiental (E), Social (S) e Governança (G). Esses três pilares conectam todos os esforços ESG em uma matriz ampla e estratégica.
- Tema: Subdivide os eixos em campos específicos, agrupando aspectos relacionados conforme as áreas mais relevantes para cada eixo.
- Critério: É o nível mais detalhado da segmentação e abrange aspectos pontuais que orientam ações práticas relacionadas aos temas.
Este enquadramento é um facilitador para que empresas iniciem sua jornada ESG de forma estruturada, garantindo que todos os esforços estejam alinhados às estratégias mais relevantes para sua sustentabilidade e crescimento.
Os 8 Passos para Incorporar ESG à Organização
A ABNT PR 2030 apresenta uma abordagem estruturada e prática para a integração do ESG nas organizações. Este processo é dividido em oito etapas lógicas e sequenciais, projetadas para guiar as empresas desde o entendimento inicial dos conceitos até a implementação efetiva e o relato de resultados. Essa metodologia permite que organizações de todos os tamanhos e setores possam adotar práticas ESG de forma consistente e alinhada com seus objetivos estratégicos.
Passo 1 – Conhecer
O primeiro passo na jornada ESG é fundamental: conhecer. Esta etapa inicial envolve a compreensão profunda dos conceitos básicos de ESG e como eles se aplicam à realidade específica da organização.
Inicialmente, é crucial que a liderança e os colaboradores chave se familiarizem com os princípios ESG. Isso inclui entender os três pilares – Ambiental, Social e Governança – e como eles se interrelacionam. Este conhecimento forma a base para todas as decisões e ações futuras relacionadas à sustentabilidade.
Paralelamente, a organização deve realizar uma avaliação inicial de suas práticas e cultura atuais. Este diagnóstico preliminar ajuda a identificar:
- Práticas ESG já existentes, mesmo que não rotuladas como tal
- Áreas de oportunidade para melhorias
- Alinhamento entre a cultura organizacional e os princípios ESG
Esta fase de reconhecimento não apenas estabelece um ponto de partida claro, mas também ajuda a construir um caso interno para a adoção de práticas ESG, demonstrando como elas podem se alinhar e potencializar os valores e objetivos já existentes da empresa.
O “Conhecer” é, portanto, um passo crítico que lança as bases para uma integração ESG bem-sucedida e duradoura.
Passo 2 – Ter Integração Estratégica
A integração estratégica do ESG é um passo crucial que demanda a incorporação desses princípios no núcleo das decisões e diretrizes organizacionais. Este processo vai além de práticas isoladas, posicionando as questões ESG como direcionadores essenciais do propósito, visão, objetivos e planos estratégicos da organização.
Engajamento da Alta Liderança
O ponto de partida para esta etapa é o engajamento proativo da alta liderança. Governantes, diretores e gerentes devem se envolver ativamente no processo de inclusão do ESG como elemento chave da cultura organizacional. Este compromisso deve se refletir em ações contínuas e na priorização do ESG como uma meta essencial, especialmente em organizações com estruturas de governança mais complexas.
Pilares da Integração Estratégica
Estabelecimento de Compromisso e Direcionamento Estratégico
Definição de uma visão estratégica que incorpore os princípios ESG
- Alinhamento das diretrizes organizacionais com metas sustentáveis
- Comunicação clara e transparente do compromisso ESG às partes interessadas
- Criação de Estruturas de Governança para o ESG
Implementação de comitês ESG ou grupos de trabalho dedicados
- Desenvolvimento de abordagens colaborativas, envolvendo representantes de diferentes áreas
- Garantia de condução robusta, transparente e eficaz das iniciativas ESG
- Capacitação e Engajamento da Equipe
Investimento em capacitações continuadas sobre os pilares ESG
- Promoção do engajamento interno através de comunicações claras e campanhas
- Criação de um ambiente colaborativo que motive contribuições para avanços sustentáveis
- Condução dos Passos Seguintes da Jornada ESG
Execução de cada etapa com rigor e alinhamento estratégico
- Foco em resultados positivos para a organização, cadeia de valor, sociedade e meio ambiente
- Promoção de impactos sustentáveis que gerem valor de longo prazo para todas as partes interessadas
Passo 3 – Diagnosticar
O diagnóstico é uma etapa essencial para a integração do ESG na organização, pois fornece o embasamento necessário para identificar temas relevantes e priorizar ações. A partir dos critérios ambientais, sociais e de governança propostos na Seção 7, as organizações podem identificar os temas ESG materiais para o seu negócio.
Para iniciar este processo, é fundamental fazer um levantamento das práticas de sustentabilidade já existentes, mapeando o grau de maturidade da organização em relação ao ESG. Esse levantamento inclui:
- Análise do nível de estruturação dos processos sustentáveis
- Identificação dos recursos disponíveis e processos aplicados
- Avaliação dos resultados obtidos até o momento
Com base nesse mapeamento, será possível reconhecer pontos fortes que possam impulsionar a implementação ESG e identificar fragilidades que precisem de melhorias. O diagnóstico deve ser contínuo e ajustado à realidade específica da organização, considerando seus aspectos internos, cultura organizacional e contexto econômico, social e geográfico.
Passo 4 – Determinar a Materialidade
A determinação da materialidade é crucial para identificar e priorizar os temas ESG mais relevantes para a organização e suas partes interessadas. Este processo envolve a avaliação de impactos significativos nas estratégias organizacionais, considerando riscos e oportunidades.
A materialidade pode ser analisada sob três perspectivas:
- Materialidade Financeira: foca nos impactos econômicos dos temas ESG.
- Materialidade de Impacto: avalia os efeitos das atividades da organização na sociedade e no meio ambiente.
- Dupla Materialidade: combina as duas abordagens anteriores, proporcionando uma visão mais abrangente.
O processo deve seguir metodologias robustas e considerar inputs do diagnóstico prévio. A participação das lideranças e partes interessadas é essencial, assim como a revisão periódica dos temas materiais. Ao determinar a materialidade, a organização otimiza recursos, foca em ações estratégicas e fortalece sua capacidade de criar valor sustentável a longo prazo.
Passo 5 – Planejar
O estabelecimento de objetivos e metas ESG é um passo crucial que traduz os temas materiais em ações concretas e mensuráveis. Este processo direciona as iniciativas da organização e permite avaliar o progresso das ações de sustentabilidade.
Características dos Objetivos e Metas ESG
Alinhados à estratégia: Refletem as prioridades organizacionais e a visão de longo prazo.
Específicos e mensuráveis: Claramente definidos e quantificáveis.
Alcançáveis e realistas: Desafiadores, mas dentro das capacidades da organização.
Relevantes: Focados nos temas materiais e expectativas das partes interessadas.
Temporais: Com prazos definidos para alcance e avaliação.
Processo de Definição
- Engajamento da liderança e participação multidisciplinar.
- Consulta às partes interessadas internas e externas.
- Análise de benchmark setorial e de líderes em ESG.
- Alinhamento com padrões globais (ODS, Acordo de Paris, GRI).
Tipos de Metas
- Ambientais: Emissões, energia, resíduos, água.
- Sociais: Diversidade, saúde ocupacional, engajamento comunitário.
- Governança: Ética, transparência, gestão de riscos.
Os objetivos e metas devem ser progressivos, baseados em evidências e revisados periodicamente para garantir sua relevância e eficácia contínuas. Este processo fortalece o compromisso da organização com a sustentabilidade e orienta suas ações para criar valor de longo prazo para todos os stakeholders.
Passo 6 – Implementar
A implementação é o momento crucial em que as estratégias ESG saem do papel e se transformam em ações concretas. Esta etapa requer um esforço coordenado em toda a organização para assegurar que as iniciativas planejadas sejam executadas de forma eficaz e alinhada aos objetivos estabelecidos.
Elementos chave para uma implementação bem-sucedida incluem:
Comunicação e Engajamento: É fundamental comunicar claramente os objetivos e metas ESG para toda a organização. Isso envolve engajar colaboradores em todos os níveis, explicando como cada um pode contribuir para as iniciativas ESG, e manter um diálogo aberto com stakeholders externos sobre os esforços e progressos.
Capacitação e Desenvolvimento: Identificar necessidades de treinamento relacionadas às iniciativas ESG e desenvolver programas de capacitação para diferentes níveis da organização é crucial. Isso inclui oferecer treinamentos específicos para equipes diretamente envolvidas em projetos ESG e promover a conscientização geral entre todos os colaboradores.
Gestão de Recursos: Alocar adequadamente recursos financeiros, humanos e tecnológicos é essencial para o sucesso das iniciativas ESG. Isso pode incluir investimentos em tecnologias sustentáveis, contratação de especialistas em ESG ou implementação de sistemas de monitoramento de desempenho.
Mudança Cultural: A implementação efetiva de ESG frequentemente requer uma transformação na cultura organizacional. Isso envolve integrar valores ESG no DNA da empresa, promovendo comportamentos alinhados com os princípios de sustentabilidade e responsabilidade social.
Engajamento na Cadeia de Valor: Estender as práticas ESG para fornecedores e parceiros de negócios, promovendo a sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de valor. Isso pode incluir o estabelecimento de critérios ESG para seleção de fornecedores ou colaborações para reduzir impactos ambientais.
Monitoramento e Ajustes: Implementar sistemas para monitorar o progresso das iniciativas ESG, coletando dados relevantes e estabelecendo mecanismos de feedback. Isso permite realizar ajustes conforme necessário, garantindo que a implementação permaneça alinhada com os objetivos estabelecidos.
A implementação bem-sucedida de ESG não apenas melhora o desempenho da empresa em aspectos ambientais, sociais e de governança, mas também pode levar a inovações, eficiências operacionais e vantagens competitivas no longo prazo. É um processo contínuo que requer comprometimento, flexibilidade e uma visão clara do impacto positivo que a organização deseja alcançar.
Passo 7 – Monitorar e Avaliar
O monitoramento e a avaliação contínuos são cruciais para o sucesso a longo prazo de qualquer estratégia ESG. Este passo permite às organizações medir o progresso, identificar áreas de melhoria e demonstrar o valor das iniciativas ESG para stakeholders internos e externos.
Elementos chave deste passo incluem:
Definição de Métricas: Estabelecer indicadores chave de desempenho (KPIs) claros e mensuráveis para cada aspecto da estratégia ESG. Isso pode incluir métricas ambientais (como emissões de carbono), sociais (como diversidade da força de trabalho) e de governança (como transparência em relatórios).
Coleta de Dados: Implementar sistemas robustos para coletar dados relevantes de forma regular e precisa. Isso pode envolver a utilização de tecnologias para capturar informações em tempo real.
Análise e Interpretação: Analisar os dados coletados para identificar tendências, padrões e insights. Esta análise deve ser contextualizada, considerando fatores externos e internos que possam influenciar os resultados.
Relatórios e Transparência: Preparar relatórios regulares sobre o desempenho ESG, garantindo transparência e comunicação efetiva com todas as partes interessadas. Isso pode incluir relatórios anuais de sustentabilidade, atualizações trimestrais para investidores ou comunicações internas para funcionários.
Benchmarking: Comparar o desempenho da organização com padrões da indústria e melhores práticas globais. Isso ajuda a contextualizar o progresso e identificar áreas onde a organização pode se destacar ou precisa melhorar.
Feedback e Ajustes: Utilizar os insights obtidos através do monitoramento e avaliação para refinar e ajustar a estratégia ESG. Isso pode envolver a revisão de metas, a realocação de recursos ou a implementação de novas iniciativas.
Engajamento de Stakeholders: Envolver ativamente as partes interessadas no processo de monitoramento e avaliação, solicitando feedback e incorporando suas perspectivas na evolução da estratégia ESG.
Auditoria Externa: Considerar auditorias independentes para validar os dados e processos ESG, aumentando a credibilidade e confiança nos relatórios da organização.
O monitoramento e a avaliação eficazes não apenas demonstram o compromisso da organização com suas metas ESG, mas também fornecem insights valiosos que podem impulsionar a inovação, melhorar a eficiência operacional e fortalecer a reputação da empresa. Este processo contínuo assegura que a estratégia ESG permaneça relevante, impactante e alinhada com as expectativas em constante evolução dos stakeholders e da sociedade em geral.
Passo 8 – Relatar e Comunicar
O relato e a comunicação eficazes são o ápice da jornada ESG, consolidando os esforços da organização e estabelecendo um canal transparente com todas as partes interessadas. Este passo crucial vai além da mera divulgação de dados; ele constrói confiança, impulsiona o engajamento e fornece bases sólidas para decisões estratégicas.
Elementos chave do processo de relato:
Monitoramento Abrangente: Implementar um sistema robusto de indicadores que cubram os eixos ESG, permitindo uma visão holística do desempenho organizacional.
Periodicidade e Formato Adaptáveis: Definir ciclos de relato que atendam às necessidades dos stakeholders, utilizando formatos que maximizem a acessibilidade e compreensão.
Transformação Tangível: Demonstrar claramente como as iniciativas ESG estão transformando a organização, a cadeia de valor e as comunidades impactadas.
Transparência Absoluta: Adotar uma postura de total abertura, evitando práticas de greenwashing e fornecendo uma visão honesta dos sucessos e desafios.
Alinhamento com Padrões Globais: Utilizar frameworks reconhecidos como GRI (Global Reporting Initiative), IFRS (Sustainability Disclosure Standards), SASB Standard, IR (Integrated Reporting Framework), CDP (Carbon Disclosure Project), TNFD (Task Force on Natural-Related Financial Disclosures) para garantir credibilidade e comparabilidade.
Engajamento Ativo: Envolver stakeholders no processo de relato, solicitando feedback e incorporando suas perspectivas para melhorias contínuas.
Verificação Externa: Considerar auditorias independentes para validar dados e processos, aumentando a confiabilidade dos relatórios.
Um relatório ESG eficaz deve incluir:
- Visão estratégica clara e metas ESG mensuráveis
- Governança ESG e políticas relevantes
- Análise de materialidade detalhada
- Indicadores de desempenho quantitativos e qualitativos
- Estudos de caso ilustrativos
- Impactos na cadeia de valor e comunidades
- Alinhamento com ODS e outros padrões globais
- Perspectivas futuras e compromissos
Ao relatar e comunicar com excelência, as organizações não apenas cumprem obrigações regulatórias, mas também fortalecem sua reputação, atraem investimentos responsáveis e inspiram mudanças positivas em toda a indústria. Este passo final é a demonstração concreta do compromisso organizacional com a sustentabilidade e a criação de valor compartilhado para um futuro mais resiliente e equitativo.
Considerações Finais
A jornada de implementação ESG é um processo transformador que vai além do cumprimento de regulações, representando uma mudança fundamental na forma como as organizações operam e criam valor. Ao longo dos oito passos apresentados, desde o diagnóstico inicial até o relato e comunicação, as empresas têm a oportunidade de repensar suas estratégias, processos e relacionamentos com stakeholders.
A adoção de práticas ESG não é apenas uma tendência, mas uma necessidade imperativa em um mundo que enfrenta desafios ambientais e sociais crescentes. As organizações que abraçam genuinamente estes princípios não só mitigam riscos, mas também descobrem novas oportunidades de inovação e crescimento sustentável.
Convidamos você a continuar explorando este tema vital em nosso blog, onde regularmente compartilhamos insights aprofundados, estudos de caso e as últimas tendências em sustentabilidade e gestão responsável. Lá, você encontrará recursos adicionais para aprimorar sua estratégia ESG, desde artigos sobre métricas de sustentabilidade até guias práticos para engajamento de stakeholders.
Referência
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ambiental, social e governança (ESG) Parte 1: Conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações. Rio de Janeiro: ABNT, 2024.